Entre as milhares de pessoas que assistem diariamente à
"Avenida Brasil", uma telespectadora em especial se diverte com as
peripécias da trupe do Divino. Sempre que pode, Xuxa senta em frente à TV para
rir com as confusões do fictício bairro criado por João Emanuel Carneiro. A
razão é simples: a apresentadora garante que viveu num ambiente igual ao que
aparece na novela. "Minha infância tem muito a cara do Divino! Sou
suburbana, fui criada em Bento Ribeiro. E lá tinha aquela coisa de todo mundo
saber da vida de todo mundo, entrar na casa do outro sem avisar, aquelas
confusões da vizinhança. Tenho saudade daquela época", conta Xuxa que, às
vésperas do Dia das Crianças, relembra outras histórias de sua infância.
O que mais aconteceu
na sua infância e lembra o Divino?
Quando fiquei mocinha, todo mundo soube! Era assim com todas
as meninas. E todo mundo sabia se a gente estava namorando, a que horas a gente
tinha saído de casa... Mas não era com maldade. Era uma coisa de grande família
mesmo. Se faltava açúcar para o bolo, a gente pedia para o vizinho. Hoje, não
vivo mais isso, mas sei que continua sendo assim no subúrbio e no interior.
Sente falta desse
clima?
Onde moro, ninguém fala com ninguém, ninguém se conhece. A
vida no subúrbio é muito diferente da vida na Zona Sul ou na Barra. Acho que as
pessoas são mais felizes porque não precisam de muito, se contentam com o mais simples.
São como as crianças.
Você foi uma criança
feliz?
Sim, muito! As minhas lembranças são muito felizes. Saí do
Sul (Xuxa nasceu em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul) aos 7 anos. Então, minhas
experiências mais vivas aconteceram no Rio. Tínhamos uma vida muito simples,
mas nunca me faltou nada. Uma vez, quando Sasha era pequena, a levei para
conhecer a casa que eu tinha em Coroa Grande (RS). Ela falou: "Você era
pobrezinha...". Respondi que não era, não. Nem pobre de dinheiro nem de
espírito. Nunca me senti assim. Graças a Deus, Sasha acabou enveredando por um
caminho em que ela saiu da realidade "escola americana". Como joga
vôlei no Flamengo, tem a possibilidade de estar com pessoas de diferentes
classes, e isso é ótimo. Ela sabe que esse nosso mundo de glamour é falso, não
existe.
A falta de dinheiro
não foi um problema?
Não lembro de ter me causado problema. É claro que a gente
não tinha dinheiro sobrando, mas tive tudo o que sempre quis. Nos meus
aniversários, minha mãe fazia aqueles bolos falsos, sabe? Aqueles para tirar
foto, mas que não podia comer! Ela também costurava minhas roupas. Minha mãe me
inscrevia em todos os concursos que podia para eu ganhar bonecas, brinquedos.
Eu tinha um monte de Susi, mas gostava era de brincar com bicho.
Bicho de verdade ou
de pelúcia?
De verdade, menina! Sempre fui doida por bicho. Até enterro
de barata eu fazia! Eu criava barata, largatixa, colocava comida para as
formigas. Tive um peixe que "se matou" pulando do aquário, e fiz um
enterro in-crí-vel pra ele. Conversava até com mosquito!
Mas brincava com
gente também?
Brincava muito mais com os amigos do Blad (irmão de 51 anos
de Xuxa). Nós éramos muito grudados, e acabei me enturmando com os amigos dele.
A gente brincava de queimada, carniça e todo tipo de pique que você possa
imaginar. Eu subia em árvore e adorava passar as férias em Coroa Grande com
meus primos. Lembro que eu acordava na hora que queria.
Você ajudava nas
tarefas de casa também?
Todo mundo tinha sua função. Mas tinha uma amiga imaginária,
a Anne, com dois "n". Ela era morena, tinha os cabelos pretos e
encaracolados, e sempre aparecia na hora de lavar o banheiro, a cozinha. Anne
desapareceu quando fiz 12 anos, e ganhei um cachorro.
Seus pais não se
preocupavam com o seu comportamento introspectivo?
Eles tinham cinco filhos! Se eu não fosse capeta como o
Blad, já estava ótimo! Quando faltava luz, Blad colava durex nas campainhas e,
quando a luz voltava, era aquele barulhão. Eu, pelo menos, era quieta!
Fonte: Jornal Extra
